CIDADANIA 23
Diretório Estadual do Paraná
Curitiba, 30 de Junho de 2016.
16:49
“Estávamos seguindo o caminho certo. Nosso pequeno grupo, batizado de independente, enfrentou a bancada da Delta e só não conseguimos aprofundar a investigação porque a maioria da CPI barrou novas quebras de sigilo e aprovou um dos relatórios mais ridículos da história de uma comissão de inquérito. Um voto em separado de duas páginas que não pediu o indiciamento de ninguém”, critica o deputado.
Robson Gonçalves
No dia 22 de novembro de 2012, Rubens Bueno (esq) e outros parlamentares entregaram ao procurador Roberto Gurgel relatório que trazia informações sobre os crimes da Delta
O esquema criminoso desbaratado nesta quinta-feira (30) na Operação Saqueador da Polícia Federal já havia sido denunciado em 2012 na CPI do Cachoeira, mas a maioria da comissão não quis aprofundar a investigação contra empreiteiros e operadores da organização. “Nós denunciamos o esquema envolvendo a empreiteira Delta, de Fernando Cavendish, o empresário Adir Assad e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Como a CPI não quis aprofundar as investigações, entregamos um relatório paralelo ao então procurador-geral da República Roberto Gurgel pedindo a abertura de inquérito. Nele, já indicávamos 15 empresas laranjas usadas para lavar dinheiro e inclusive preparamos um mapa com o fluxo dos recursos que saiam dos cofres públicos para a Delta e que foram parar nas firmas de fachada”, relembra o líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR).
Para o deputado, a frustração com o resultado da CPI naquela época agora se transforma em sensação de vitória com a prisão dos chefes da quadrilha acusada de lavar R$ 370 milhões. “Estávamos seguindo o caminho certo. Nosso pequeno grupo, batizado de independente, enfrentou a bancada da Delta e só não conseguimos aprofundar a investigação porque a maioria da CPI barrou novas quebras de sigilo e aprovou um dos relatórios mais ridículos da história de uma comissão de inquérito. Um voto em separado de duas páginas que não pediu o indiciamento de ninguém”, critica o deputado. Faziam parte do núcleo do grupo de independentes, além de Rubens Bueno, o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) e os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Taques (PDT-MT) e Pedro Simon (PMDB-RS).
Rubens Bueno relembra ainda que, diante da blindagem na CPI e a forte influência da “turma do guardanapo na cabeça”, não restou outra opção ao grupo a não ser levar os dados que tinham ao procurador-geral da República. “Foi por esse motivo que recorremos ao Ministério Público para pedir que o procurador-geral Roberto Gurgel analisasse os elementos que apresentamos e abrisse inquérito para apurar a organização criminosa comandada pela Delta”.
Na operação desta quinta-feira, a PF já prendeu o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, Cláudio Abreu, funcionário da Delta, e o operador de propinas Adir Assad. Fernando Cavendish, dono da Delta, teve a prisão decretada, mas não foi encontrado pelos agentes em sua residência, no Leblon, zona sul do Rio. As informações são de que ele estaria no exterior.
Foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão no Rio, em São Paulo e em Goiás, na sede e filial de empresa de engenharia, seu controlador e pessoas relacionadas ao suposto esquema. Foi apreendido um cofre no apartamento de Fernando Cavendish no Rio.
A PF confirmou que a investigações, que duraram três anos, começaram a partir do envio de documentação pela CPI do Cachoeira. O trabalho levou ao indiciamento de 29 pessoas suspeitas de desvios de recursos federais de várias obras públicas. Desse total, 23 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal.
“O material foi imprescindível para o início das investigações na medida em que tais informações nominaram as empresas de fachada que supostamente recebiam valores desviados da pessoa jurídica investigada no presente apuratório”, afirmou nota da Polícia Federal.