CIDADANIA 23
Diretório Estadual do Paraná

Curitiba, 23 de Novembro de 2017.
10:07


Seminário: Parcerias estratégicas entre Brasil e Itália avançam

Exploração espacial, indústria da Defesa, reconhecimento de diplomas, intercâmbio cultural, simplificação de vistos, pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Não são poucas as parcerias já em andamento e em fase de fechamento de acordos entre o Brasil e a Itália. Detalhes dessa relação, que vai muito além da pauta comercial, foram debatidos nesta quarta-feira (22) no Seminário de Amizade Brasil-Itália: As relações bilaterais em debate, que reuniu parlamentares dos dois países, diplomatas, acadêmicos, militares, integrantes do governo brasileiro, executivos de empresas e representantes da sociedade civil na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Exploração espacial, indústria da Defesa, reconhecimento de diplomas, intercâmbio cultural, simplificação de vistos, pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Não são poucas as parcerias já em andamento e em fase de fechamento de acordos entre o Brasil e a Itália. Detalhes dessa relação, que vai muito além da pauta comercial, foram debatidos nesta quarta-feira (22) no Seminário de Amizade Brasil-Itália: As relações bilaterais em debate, que reuniu parlamentares dos dois países, diplomatas, acadêmicos, militares, integrantes do governo brasileiro, executivos de empresas e representantes da sociedade civil na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Ao abrir o evento, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a presença histórica da comunidade de origem italiana no Brasil torna cada vez mais importante o aprofundamento dessa relação. O país conta hoje com cerca de 30 milhões de descendentes de italianos. “Queria reafirmar aqui nosso compromisso com nossas relações com a Itália, de nossa relação de amizade e das nossas relações econômicas e na área da Defesa. A parceira é muito importante para a Itália e para o Brasil, sem dúvida nenhuma”, frisou.

Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Itália, o deputado Rubens Bueno (PPS-PR) reforçou a importância desse intercâmbio para a economia nacional. “A Itália é um dos dez países que mais investem aqui. Temos cerca de 900 empresas italianas no Brasil, empregando quase 200 mil trabalhadores. Além disso, cerca de 300 mil brasileiros visitam a Itália por ano e 240 mil italianos viajam anualmente para o nosso país. Sem contar que hoje cerca de 70 mil brasileiros residem na Itália”, destacou.

O seminário discutiu ações que facilitem a vida dos cidadãos das duas nações. Entre elas, está o acordo que permite usar carteiras de motorista de um país no outro, como destacou a deputada Renata Bueno, representante brasileira no Parlamento Italiano. “A medida foi aprovada pela Itália e, aqui no Brasil, passou pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. Deve entrar em vigor no máximo em 60 dias”, ressaltou Renata.

Ele destacou ainda que a relação próxima entre os dois países facilita parcerias e acordos. “Nós temos esse laço de amizade há muitos anos, principalmente no ambiente parlamentar. O Grupo Parlamentar Itália existe desde 1979 e a história da migração italiana no Brasil é uma história centenária, gerando assim um número muito grande de descendentes italianos. Além disso, é ação governamental e diplomática. Debatemos importantes cooperações técnicas, acordos bilaterais, vários temas de interesses dos dois países. Não é a primeira vez que estamos aqui. Já promovemos outros seminários e temos feito esse diálogo uma vez por ano ou aqui em Brasília ou em Roma”, disse.

A ideia é reforçar as conversas sobre assunto de interesse dos cidadãos que moram aqui ou na Itália para que possam ter maior conforto no dia a dia de cada um deles. “Tratamos desde temas ligados, como foi o acordo das carteiras de motoristas, acordos de reconhecimento de títulos universitários e exportamos a primeira lei do Brasil relacionada à cultura, que foi a Lei Rouanet, onde aprovamos a reforma da cultura da Itália para que pudesse financiar através de incentivo privado a reforma e revitalização dos monumentos históricos italianos. Então nós temos vários temas onde a gente tenta mostra boas experiências, bons resultados no Brasil para Itália e vice-versa. Temos muitas frentes de trabalho e muitos projetos em andamento”, destacou.

Parcerias na Defesa avançam

Entre essas principais frentes está a área da Defesa, onde os dois países já firmaram diversos acordos de sucesso e tratam o fechamento de novas parcerias. Uma delas pode ocorrer com a Centro de Lançamento de Alcântara. Participante do seminário, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, revelou que já foram iniciadas conversas com a Itália para uma futura atuação conjunta na base de lançamento de satélites

“Em conversa que tivemos ontem com o embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, o principal ponto foi o Centro de lançamento de Alcântara. É um projeto que se iniciou em 1982. De lá para cá toda uma estrutura foi construída, a base está pronta e tem capacidade operacional, inclusive está operando com alguns lançamentos suborbitais. Nós podemos num prazo mais breve possível tornar Alcântara completamente operacional. Quando eu digo amplamente é que hoje temos um mercado em expansão dos nano satélites, dos microsatélites e dos satélites convencionais”, destacou.

esse sentido, a ideia é buscar parcerias com três ou quatro países, e a Itália pode ser um deles. “Considerando que o Centro de Lançamento de Alcântara é o melhor em termos geográficos no mundo, porque ele está a apenas dois graus da linha do Equador, isso significa vantagens comparativas. Ele pode reduzir o custo de lançamento em até 30%, o que realmente em termos competitivos dá uma grande vantagem. Nós tivemos um primeiro momento onde os Estados Unidos é que iriam cuidar disso, o que gerou uma série de entraves e problemas. E depois tivemos também a experiência da Ucrânia. Hoje nós estamos partindo para uma modelagem em que se possa ter dois, três, quem sabe quatro países participando desse processo. Como a Itália tem experiência, inclusive tem um vetor já muito reconhecido, e há um interesse de participar desse processo em sua relação comercial, estamos conversando sobre isso”, adiantou o ministro.

Ele lembrou ainda da parceria aeronáutica, com o projeto do jato militar projeto AMX. “Significou um salto de desenvolvimento enorme para a nossa Embraer. E agora estamos com uma parceria com a Itália, por meio da empresa Iveco, para a modernização de toda a frota de blindados do Brasil”, citou Jungmann. Também estão em andamento as tratativas para a construção de quatro corvetas para a Marinha. “A Itália, através de estaleiros, está participando dessa concorrência que é estratégica para a Marinha brasileira”, completou.

Ao finalizar sua participação, o ministro se mostrou otimista com o avanço das relações entre os dois países. “Na área da Defesa temos relações consolidadas, seculares e um excelente nível de parcerias de treinamento, capacitação e de troca de informações com as Forças Armadas italianas. Trabalhamos juntos em várias missões de paz. O cesto de ações com a Itália é ‘top’. Tem passado, tem presente e um belo futuro pela frente”.

Vistos

Outra mudança importante para incentivar os negócios entre os dois países é a concessão de vistos, que, segundo Maria Dulce Barros, do Ministério de Relações Exteriores, ficou mais simples com a nova Lei de Migração (13.445/17).

“Os vistos não serão mais de turismo, de negócios ou de trabalho temporário. Passam a ser todos vistos de visita, o que facilita o processo de concessão dos documentos”, explicou. Ela ressaltou ainda o projeto de concessão de vistos eletrônicos, que poderão ser tirados pela internet, sem a necessidade de o interessado se deslocar até um consulado.

Interesses comerciais

O embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, ressaltou durante o evento que a Itália tem confiança no mercado e na mão de obra brasileira e lembrou que muitos descendentes italianos se tornaram grandes líderes do Brasil. “As empresas italianas não deixam de olhar o Brasil com perspectiva de longo prazo”, disse.

Uma dessas corporações italianas atuantes no Brasil é o grupo CNH Internacional, que controla a empresa Iveco. O executivo Alexandre Bernardes disse que a empresa já investiu US$ 900 milhões no Brasil em pesquisa e desenvolvimento e está produzindo blindados para as Forças Armadas, além de tratores, caminhões e motores. “Ao lado do blindado Guarani (que envolve um contrato de 1580 unidades) estamos trazendo para o Brasil um veículo 4×4 que já é utilizado por várias forças armadas do mundo”. Lembrou ainda que seus centros de pesquisas empregam mais de 400 engenheiros brasileiros, inclusive do Exército. “A grande palavra para a indústria é a previsibilidade para que possamos fazer investimentos de longo prazo”, frisou.

A deputada italiana Adriana Galgano, também abordando a questão da Defesa, lembrou que o Livro Branco do país para essa área prevê como prioridade a inovação tecnológica e nesse sentido a colaboração internacional é muito importante. “Estou aqui para assegurar toda a colaboração nas áreas de parceria”, disse,

Cultura

A Chefe do Departamento Cultural da Embaixada da Itália no Brasil, Alessandra Crimi. falou sobre a cooperação cultural e fez um resumo das atividades para promover a língua e a cultura italiana no Brasil com foco no reconhecimento dos títulos universitários. “Para a Itália o Brasil representa uma grandiosa aposta cultural. Vários dados confirmam a demanda pela língua e cultura italiana cresce a cada dia mais. Há grande interesse do público brasileiro em imigração. Ainda hoje o setor cultural permanece como um dos pilares estruturais da cooperação ítalo brasileira. Por isso, desde o ano passado a embaixada dedica seus inovados recursos e seus conjunto de energias orçamentárias e humanas à política de promoção cultural. Apoiando com força atividades de aprofundamento e lançamento de iniciativas novas cujo o núcleo é justamente a divulgação da língua e da cultura italiana”.

Falou ainda que os dois países ressaltam a importância da cultura como instrumento de promoção e fortalecimento das relações recíprocas, especialmente no setor acadêmico. “No Brasil, em 2015 e 2016, mais 44 mil estudantes frequentaram curso de língua e cultura italiana. A Itália se tornou um dos principais destinos escolhidos pelos estudantes brasileiros para formação no exterior, graças à participação do país no Programa Ciência Sem Fronteiras. Nos últimos anos, foram assinados mais de 800 acordos bilaterais que tem consolidado a mobilidade acadêmica. A demanda para o reconhecimento da cidadania italiana continua muito elevada no Brasil, onde têm 30 milhões de ítalo descendentes”, finalizou.

Já o coordenador do Núcleo de Europa da Assessoria Internacional do Ministério da Educação, Gabriel Felipe da Fonseca Dizner, abordou a cooperação educacional entre Brasil e Itália. “A cooperação educacional atualmente vem se dando no nível das universidades. Entre as universidades brasileiras e italianas têm sido assinados muitos acordos de cooperação. Existe um grande interesse por parte do Brasil em manter relacionamento com universidades para intercâmbio de docentes e para a pesquisa em níveis de doutorado e pós-doutorado. O Brasil é um dos países com os quais a Itália mais assina acordo de cooperação universitária”.

Ele destacou ainda que o aprendizado do italiano no Brasil se intensificou após o lançamento do Programa Ciência Sem Fronteiras. “Sobre a internacionalização da educação superior, o Brasil ainda recebe poucos estudantes diante do nível dos cursos que temos nas universidades federais. Dados apontam que hoje existem 327 cidadãos italianos cursando algum curso no Brasil. Muito pouco comparado ao número de estudantes que foram estudar na Itália, cerca de 4 mil”.

Já com relação ao reconhecimento de títulos e qualificações, disse que no passado existia uma dificuldade muito grande para os alunos que foram estudar no exterior de reconhecer seus títulos e qualificações. Mas isso mudou. “No final de 2016 foi assinado uma portaria do ministro da educação estabelecendo diretrizes para acelerar o processo de revalidação de diploma. Foi instituída uma plataforma, denominada “Carolina Bori”, onde as instituições poderão compartilhar informações sobre processos recebidos para validação dos diplomas.

A história pessoal

Filho de italianos, o senador José Serra (PSDB-SP) fez um breve histórico sobre sua trajetória política e relembrou a ajuda da Itália lhe deu quando viveu momentos difíceis. Nos anos 60 tirou passaporte italiano e consequentemente conseguiu a cidadania. Quando veio o golpe militar do Chile, em 1973, onde estava exilado por causa da ditadura no Brasil, conversou com o embaixador da Itália que o hospedou na embaixada. O exército foi até seu trabalho para prendê-lo, mas não o encontraram. Tinha passaporte italiano e visto diplomático. A partir daí ficou recluso na embaixada. Em seguida foi preso no aeroporto quando tentava deixar o país e sua preocupação é que a prisão não ficasse no anonimato.

Um funcionário da embaixada seguiu o carro do exército chileno até o quartel para onde foi levado. A embaixada italiana pressionou o governo chileno e ele acabou sendo solto com o compromisso de voltar para ser interrogado, mas não voltou. Depois de muita pressão do governo italiano, o Chile lhe concedeu salvo conduto. Foi embora para a Itália e deram a ele uma ajuda de custo, criada para italianos repatriados.