CIDADANIA 23
Diretório Estadual do Paraná
Curitiba, 16 de Outubro de 2023.
16:06
A atual 18ª legislatura da Câmara de Curitiba, iniciada em 2021, tem recorde de oito vereadores-professores.
Foto CMC Site /
CMC (Câmara Municipal de Curitiba)
por José Lázaro Jr. | Revisão: Ricardo Marques
Para as comemorações do Dia do Professor, neste 15 de outubro, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) tem uma feliz coincidência para festejar. Quando Bruno Pessuti (Pode) retornou para a CMC, no dia 1º de fevereiro de 2023, na condição de suplente do Podemos, a atual 18ª legislatura da CMC atingiu o recorde de oito vereadores-professores. Ao se somar aos nomes de Carol Dartora (PT), Dalton Borba (PDT), Denian Couto (Pode), Herivelto Oliveira (Cidadania), Professora Josete (PT), Professor Euler (MDB) e Renato Freitas (PT), Pessuti fez com que o ciclo atual superasse a 1ª legislatura, que detinha essa marca há 76 anos.
“Eu comecei a dar aulas devido à minha experiência em defender a sustentabilidade, por ter trabalhado em três multinacionais e em dois institutos de pesquisa. Primeiro, eu lecionei Produção de Energia Sustentável, para alunos de Engenharia Ambiental. Depois, passei para Ciência dos Materiais, para estudantes de Ambiental e de Engenharia Civil, na antiga Faculdade Anchieta, hoje UniEnsino. Eu meio fiz o caminho inverso: eu me tornei professor depois de já ser vereador”, contou Pessuti à reportagem. Neste semestre, ele não tem aulas, mas segue integrando o quadro de professores da universidade.
Perguntamos a todos os vereadores-professores atualmente com mandato na CMC qual é a importância de ter docentes com mandato, representando a população de Curitiba no Legislativo. O “novato” Bruno Pessuti disse que percebeu, na experiência recente, que o contato permanente com os alunos o inspira a estar em constante aperfeiçoamento. “É reflexo desse desafio de transformar alunos em bons profissionais”, analisou, acrescentando que as atividades de vereador e de professor têm uma semelhança importante, que é a de “termos que estar em constante estudo”.
Nos últimos 76 anos, 334 pessoas foram eleitas para a Câmara de Vereadores, das quais 40 foram professores (12%), contando aqueles que tinham na Educação sua carreira profissional principal ou que lecionaram secundária ou ocasionalmente. Os dados foram compilados do livro “Legislaturas Municipais de 1947 a 2021”, da pesquisadora Luciane de Fátima Pereira, que foi servidora da CMC, e completados com o trabalho da Diretoria de Comunicação Social (DCS) no projeto Nossa Memória, dedicado a reportagens que recuperam e preservam a história da Câmara de Curitiba.
“É importante que os diversos segmentos e movimentos da sociedade apresentem candidaturas, seja para o Executivo ou para o Legislativo, inclusive, nós, professores. São cidadãs e cidadãos que vivem a realidade do dia a dia e certamente contribuirão para o fortalecimento das políticas públicas”, justificou a Professora Josete. A parlamentar ingressou na CMC em 2005, estando no quinto mandato consecutivo, e é a segunda pessoa ligada à Educação com mais tempo de Legislativo, atrás somente de Jorge Bernardi e empatada com Ailton Araújo.
Formada em Ciências Biológicas e especialista em Organização do Trabalho Pedagógico, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Professora Josete começou a lecionar na rede municipal de ensino no ano de 1985, para as séries iniciais e finais do Ensino Fundamental, com aulas de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências e Educação Artística. Atuando na rede estadual, de 1987 a 1994, Josete teve alunos no Fundamental e no Ensino Médio, lecionando Matemática, Ciências e Biologia. Ela ingressou na vida pública participando do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac).
A Câmara Municipal de Curitiba é a instituição pública mais antiga da capital do Paraná, logo não é por acaso que a sua fundação é utilizada como marco para a comemoração do aniversário da cidade, no dia 29 de março. Mas nesta história de 333 anos, a contagem das legislaturas foi interrompida várias vezes, três só após a Proclamação da República, em 1889. A última vez que o Legislativo ficou fechado foi durante o governo ditatorial de Getúlio Vargas, conhecido como Estado Novo, então os vereadores da capital decidiram zerar a contagem quando reabriram a instituição, em 1947, para marcar esse recomeço.
De lá para cá, nestes 76 anos, todas as 18 legislaturas tiveram professores entre os parlamentares com mandato, contando eleitos e suplentes que assumiram em cada ciclo político. Dentro dessa constante, pelo menos um era docente de ensino superior, na sua maioria ligados à área do Direito. Essa realidade reflete o grande número de advogados eleitos para a Câmara de Curitiba desde 1947, com 48 nomes conhecidos. O representante desta tradição, no momento, é Dalton Borba, professor de Direito Constitucional na UniCuritiba há mais de 23 anos, onde estima ter ensinado mais de 15 mil alunos.
“O professor é, por natureza, um estudioso, um pesquisador, que deve trabalhar com fatos, estatísticas e evidências. Por terem essa proximidade maior com a realidade social, podem sugerir políticas públicas mais afirmativas e efetivas”, disse Borba à reportagem. Além do ensino superior, ele tem um projeto de levar aulas sobre a Constituição Federal às escolas públicas municipais e estaduais. “Teve uma vez, no Umbará, no fim de uma semana com atividades para 900 alunos, que uma estudante, quase chorando, veio até mim e disse que ela tinha decidido seguir essa trilha, ‘mudou a minha vida, quero conhecer isso’, e isto me tocou muito. Nosso papel é construir um mundo melhor para os outros”, afirmou.
Desde 1995, o vereador Professor Euler leciona Física no Curso Positivo e, neste tempo, estima-se que teve mais de 150 mil alunos entre estudantes regulares do Ensino Médio e aqueles engajados em passar no vestibular para entrar em cursos disputados da UFPR e de outras instituições regionais e nacionais. Conversando sobre o Dia do Professor, ele ressaltou que uma das características da profissão é a sensibilidade. “Durante toda a vida profissional, professores aprendem a ouvir os alunos e a compreender seus anseios. Esta sensibilidade é algo fundamental para tomar decisões que impactam positivamente a vida das pessoas”, analisou o parlamentar.
Ele e os demais vereadores-professores da atual legislatura se somam à eclética lista de parlamentares que encontraram tempo para combinar suas atividades de ensino à representação política. Neste grupo, estão nomes como o de José Loureiro Fernandes, antropólogo e médico, que fundou o Círculo de Estudos Bandeirantes e o Museu de Arqueologia e Etnografia da UFPR. Também o das vereadoras Maria Olympia Mochel, Maria Clara Tesseroli, Zélia Passos e Jane Rodrigues, além dos diretores de escolas que trouxeram suas visões de mundo para a Câmara, como Ailton Araújo e Professor Silberto.
“O envolvimento dos professores na vida pública é mais do que importante, eu creio ser essencial. Em uma democracia representativa, é extremamente necessário que diversas categorias se sintam representadas nos parlamentos. A presença de docentes em cargos eletivos faz com que professores e outros profissionais da Educação tenham voz ativa em decisões importantes”, apontou o vereador. Tomando o Professor Euler como exemplo, uma forma de ver a atuação parlamentar em prol da Educação é a intervenção deles no orçamento público. No último ano, Euler destinou emendas para 27 escolas públicas e 7 creches municipais, que, com os recursos, puderam realizar reformas e comprar materiais.
Mal tinham passado 50 anos do fim da escravidão, quando, em 1947, o professor universitário Antenor Pamphilo dos Santos se tornou o primeiro vereador negro de Curitiba. Natural da capital da Bahia, o jovem médico se mudou para o Paraná e foi fundamental para a organização do combate às endemias no estado, trabalhando nos serviços comunitários de saúde. Docente na UFPR, é famoso o apoio dos alunos da universidade à sua candidatura à Câmara de Vereadores, cujas faixas traziam o slogan “Não vote em branco, vote no Antenor”.
Até hoje, a 1ª legislatura detinha o recorde de mais vereadores-professores da história de Curitiba. Foram 20 vereadores eleitos e 16 suplentes convocados de 1947 a 1951, dos quais 7 eram ligados à Educação: Antenor Pamphilo dos Santos, Ernani Santiago, Gaspar Velloso, Lauro Esmanhoto, Loureiro Fernandes, Maria Olympia Carneiro Mochel e Wallace Thadeu de Mello e Silva. O número só foi superado agora, 76 anos depois, com uma dupla coincidência, pois além dos oito vereadores-professores com mandato desde 2021, a 18ª legislatura também é a com maior representação negra da história de Curitiba.
Ao lado de Carol Dartora, Giorgia Prates, Mestre Pop e Renato Freitas, o vereador Herivelto Oliveira é parte dessa história, quando, pela primeira vez, cinco pessoas negras tiveram mandato na mesma legislatura da Câmara de Curitiba. “Terminei em junho meu mestrado em Comunicação, com uma pesquisa sobre a baixa representatividade negra no Jornal Nacional [da TV Globo], mas não sobre o número de jornalistas, mas de entrevistados nas reportagens. Em oito meses de análise, apenas 15% dos entrevistados eram pessoas negras, bem abaixo dos 56% que é o tamanho da população negra do Brasil”, contextualizou Oliveira.
De junho para cá, Herivelto Oliveira, o mais novo professor da Câmara de Curitiba, lecionou a disciplina “Poder Legislativo nas políticas públicas”, em uma pós-graduação da PUC-PR, e prepara material didático sobre a Formação do Estado Brasileiro, com foco na história administrativa dos municípios, para o grupo Vitru Educação, “um dos maiores de Ensino a Distância no país”. “Eu não imaginava trabalhar com esses temas, porque minha ideia era dar aulas em Comunicação Social, mas, como as oportunidades surgiram, em função de eu ser jornalista e vereador, resolvi enfrentar os desafios”, disse.
“A gente deveria ter mais políticos com formação acadêmica e que estivessem em sala de aula, porque estar neste ambiente conecta você com o momento atual. Há muita troca de informação com os alunos, e isso é bom”, avaliou Herivelto Oliveira. Curiosamente, o Dia do Professor também é criado no ambiente de redemocratização que se seguiu à ditadura do Estado Novo, em 1947, por sugestão do professor Salomão Becker, que, com colegas, em uma escola da cidade de São Paulo, decidiram que a data de 15 de outubro seria para um descanso aos profissionais, no segundo semestre. A ideia do Dia do Professor se espalhou pelo Brasil e foi oficializada pelo ex-presidente João Goulart, por meio do decreto federal 52.682/1963.
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